quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

Mozart









Mozart foi uma criança prodígio. Filho de uma família musical burguesa, começou a compôr minuetos para cravo com a idade de cinco anos. O seu pai Leopold Mozart foi também compositor, embora de menor relevo. Algumas das primeiras obras que Mozart escreveu enquanto criança foram duetos e pequenas composições para dois pianos, destinadas a serem interpretadas conjuntamente com sua irmã, Maria Anna Mozart, conhecida por Nannerl.
Wolfgang Amadeus Mozart, retrato póstumo por Barbara Krafft.
Wolfgang Amadeus Mozart, retrato póstumo por Barbara Krafft.

Em 1763 seu pai o levou, junto com a sua irmã Nannerl, então com 12 anos, numa viagem pela França e Inglaterra. Em Londres, Mozart conheceu Johann Christian Bach, último filho de Johann Sebastian Bach, que exerceria grande influência em suas primeiras obras.

Entre 1770 e 1773 visitou a Itália por três vezes. Lá, compôs a ópera Mitridate que obteve um êxito apreciável. A eleição, em 1772, do conde Hieronymus Colloredo como arcebispo de Salzburgo mudaria esta situação. A Sociedade da Corte vienense implicava com a origem burguesa e os modos de Mozart, e Colloredo não admitia que um mero empregado - que era o estatuto dos músicos, nessa época - passasse tanto tempo em viagens ao estrangeiro. O resto dessa década foi passado em Salzburgo, onde cumpriu os seus deveres de Konzertmeister (mestre de concerto), compondo missas, sonatas de igreja, serenatas e outras obras. Mas o ambiente de Salzburgo, cada vez mais sem perspectivas, levava a uma constante insatisfação de Mozart com a sua situação.

Em 1781, Colloredo ordena a Mozart que se junte a ele e sua comitiva em Viena. Insatisfeito por ser colocado entre os criados, pediu a demissão. A partir daí passa a viver da renda de concertos, da publicação de suas obras e de aulas particulares, sendo pioneiro nessa tentativa autônoma de comercialização de sua obra. Inicialmente tem sucesso, e o período entre 1781 e 1786 é um dos mais prolíficos de sua carreira, com óperas (Idomeneo - 1781, O Rapto do Serralho - 1782), sonatas para piano, música de câmara (especialmente os seis quartetos de cordas dedicados a Haydn) e principalmente com uma deslumbrante seqüência de concertos para piano. Em 1782 casa, contra a vontade do pai, com Constanze Weber. Constanze era irmã mais jovem de Aloisia Weber Lange, cantora lírica por quem Mozart se apaixonara poucos anos antes.
Wolfgang Amadeus Mozart 1789
Wolfgang Amadeus Mozart 1789

Em 1786, compõe a primeira ópera em que contou com a colaboração de Lorenzo da Ponte: As bodas de Fígaro. A ópera fracassa em Viena, mas faz um sucesso tão grande em Praga que Mozart recebe a encomenda de uma nova ópera. Esta seria Don Giovanni, considerada por muitos a sua obra-prima. Mais uma vez, a obra não foi bem recebida em Viena. Mozart ainda escreveria Così fan tutte, com libreto de Da Ponte, em 1789.

A partir de 1786 sua popularidade começou a diminuir junto do público vienense, o que agravaria a sua condição financeira. Isso não o impediu de continuar compondo obras-primas, como Quintetos de cordas (K.515 em Dó maior, K.516 em Sol menor em 1787), Sinfonias (K.543 em Mi bemol maior (nº39); K.550 em Sol menor (nº40), que a sua música mais importante e famosa; K.551 em Dó maior (nº41) em 1788), e um Divertimento para Trio de Cordas (K.563 em 1788), mas nos seus últimos anos a sua produção declinou devido a problemas financeiros, à precariedade da sua saúde e da sua esposa Constanze; aliados a uma crescente preocupação do compositor em relação à sinceridade do amor que esta o dedicava e à crescente frustração com o não reconhecimento.

Em 1791 compõe suas duas últimas óperas: A Clemência de Tito e A Flauta Mágica, seu último concerto para piano (K.595 em si bemol maior) e o belo Concerto para clarinete em lá maior (K.622). Na primavera desse ano, recebe a encomenda de um Requiem (K.626). Contudo, trabalhando em outros projetos e com a saúde cada vez mais enfraquecido, morre a 5 de Dezembro, deixando a obra inacabada (há uma lenda que diz que o Requiem estaria sendo composto para tocar em sua própria missa de sétimo dia). Será completada por Franz Süssmayr, seu discípulo. Mozart é enterrado numa vala comum, em Viena.

[editar] Obra musical

O catálogo geral das obras de Mozart foi realizado pelo botânico, mineralogista e biógrafo musical alemão Ludwig Köchel (1800 - 1877); daí a letra K que aparece frequentemente junto ao título de suas obras (ou KV, que significa Köchel Verzeichnis, catálogo Köchel). Köchel catalogou as obras de Mozart em ordem cronológica, da mais antiga para a mais recente, sendo K1 um minueto para cravo, a primeira obra catalogada, e K626 o Requiem, obra inacabada.

[editar] Sinfonias

Köchel numerou as sinfonias de Mozart de 1 a 41. Mais tarde, outras sinfonias foram descobertas, elevando o número total de sinfonias de Mozart para 50. Quando pensamos, porém, nas sinfonias de Beethoven, Schubert, Schumann, Brahms, e Mahler, as primeiras 30 dessas peças não merecem verdadeiramente ser chamadas de sinfonias. São peças curtas, cuja duração às vezes não ultrapassa cinco minutos, escritas para uma orquestra pequena, e que em geral inclui apenas as cordas, dois oboés ou duas trompas. Segundo o conceito actual de sinfonia, Mozart compôs apenas as 10 que estão numeradas de 31 a 41. Note-se que a Sinfonia No. 37 de Mozart (assim numerada por Köchel) foi composta, de facto, por Michael Haydn (irmão de Franz Joseph Haydn), como se veio a demonstrar mais tarde, ainda que Mozart tenha composto um dos movimentos da obra. As sinfonias numeradas de 25 a 30 também costumam despertar algum interesse, mas não são geralmente consideradas de qualidade comparável à das dez últimas.

A primeira grande sinfonia de Mozart é a Sinfonia No. 31 em Ré Maior, K297, chamada Sinfonia Paris, composta em 1778 durante uma viagem de Mozart a Paris. É também a mais ricamente orquestrada de todas as sinfonias de Mozart: sua orquestração inclui duas flautas, dois oboés, duas clarinetas (é a primeira vez que Mozart as emprega numa sinfonia), 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, 2 tímpanos (ré, lá) e cordas. Mozart nunca usou trombone em nenhuma de suas sinfonias. Aliás, o uso de trombones era raro na época, mesmo em orquestra de ópera, em geral mais rica do que a usada nas sinfonias. Apenas se regista o seu uso nas óperas Idomeneo, Don Giovanni, A Flauta Mágica, e no Requiem. Em Idomeneo, por exemplo, três trombones aparecem numa única cena, em que a voz de Netuno anuncia aos habitantes de Creta as condições para que o tsunami pare de assolar a ilha. Em Don Giovanni, três trombones aparecem na cena do cemitério, em que a estátua do comendador fala com Don Giovanni, e novamente na cena final, em que o fantasma do comendador comparece ao banquete convidado por Don Giovanni. Em A Flauta Mágica, Mozart chegou a usar 5 trombones! No Requiem, um solo de trombone anuncia o Tuba Mirum, de modo que se pode dizer que, em Mozart, o trombone anuncia sempre algum tipo de comunicação com o sobrenatural.

Mozart queria impressionar os parisienses, e a Sinfonia "Paris" começa de maneira bombástica, com quatro acordes em forte na orquestra inteira seguidos de semi-colcheias rapidamente ascendentes nas cordas, flautas e fagotes, dando uma sensação de fogo-de-artifício. O primeiro movimento da sinfonia transcorre num clima festivo, com os "fogos de artifício" explodindo aqui e ali. O segundo movimento, Andante 6/8, é uma dança francesa, delicada e elegante, lembrando um quadro de Fragonard. O terceiro e último movimento, Allegro, começa com uma tremedeira cheia de expectativa só nos violinos, que explode num tutti (acorde de ré), como o estourar de uma rolha de champanhe, e a festa começa.

Outra obra marcante é a Sinfonia No. 36 em Dó Maior, K425 ("Linz"). Mozart e sua mulher deixaram Salzburgo às 9:30 da manhã a 27 de outubro de 1783 com destino a Linz, na Áustria. Assim que lá chegaram, Mozart escreveu uma carta a seu pai, datada de 31 de outubro, na qual dizia: Preciso dar um concerto aqui e, como não trouxe comigo nenhuma sinfonia, estou compondo uma nova o mais rápido que posso. O concerto estava marcado para 4 de novembro, o que significa que Mozart teria 4 dias para compor! E, de fato, a 4 de novembro, a nova sinfonia de Mozart foi apresentada ao público. Nem mesmo um gênio como Mozart poderia compor uma sinfonia como a Linz em apenas quatro dias. Essa carta de Mozart parece só fazer sentido se ele já tinha concebido mentalmente a totalidade da sinfonia quando entrou na carruagem em Salzburgo, já que se calcula que levaria uns três ou quatro dias só para passar a sinfonia para o papel (trabalhando muito rapidamente) mais, talvez, uns dois dias para mandar copiar as partes de cada instrumento e distribuí-las aos músicos (desde que ele tivesse um excelente time de copistas à sua disposição), ensaiar e reger a Linz. O fato é que, mesmo tendo sido composta às pressas, a Sinfonia Linz é um exemplo de arte clássica, bela e bem proporcionada em todas as suas partes, expressando os mais inefáveis e ardentes desejos, num monumento sinfônico digno de figurar ao lado das sinfonias de Mahler e de Beethoven. Podemos ouvir as rodas da carruagem no primeiro movimento da Linz.

O próprio Mozart esclareceu numa carta o seu processo de composição:
Quer saber como eu componho? Posso dizer-lhe apenas isto: quando me sinto bem disposto, seja na carruagem quando viajo, seja de noite quando durmo, ocorrem-me idéias aos jorros, soberbamente. Como e donde, não sei. As que me agradam, guardo-as como se tivessem sido trazidas por outras pessoas, retenho-as bem na memória e, uma após a outra, delas tomo a parte necessária, para fazer um pastel segundo as regras do contraponto, da harmonia, dos instrumentos, etc. Então, em profundo sossego, sinto aquilo crescer, crescer para a claridade de tal forma que a obra mesmo extensa se completa na minha cabeça e posso abrangê-la de um só relance, como um belo retrato ou uma bela mulher... Quando chego neste ponto, nada mais esqueço, porque boa memória é o maior dom que Deus me deu.
Mozart

A Sinfonia No. 38 em Ré Maior, K504 ("Praga") foi composta em Viena em 1786. Em janeiro de 1787, Mozart fez uma viagem a Praga, onde ele estreou sua sinfonia no dia 19 daquele mês. Assim como a Linz, esta sinfonia também tem uma introdução lenta. Haydn quase sempre punha uma introdução lenta nas suas sinfonias; Mozart raras vezes o fazia. Este é um monumento sinfônico comparável à Linz, com um segundo tema extremamente comovente no primeiro movimento.

A Sinfonia No. 40 em Sol Menor, K550 é a única dessas dez em tonalidade menor. Seu tom de angústia é, ao mesmo tempo, tão comovente que levou Schubert a exclamar: Na sinfonia em sol menor de Mozart, pode-se ouvir o canto dos anjos.

As sinfonias nos. 39 e 40 foram inicialmente escritas sem clarinetas. Clarinetas eram raras no tempo de Mozart; o instrumento havia sido recentemente inventado, e Mozart foi um dos primeiros a compor para ele. Mozart não esperava contar com uma orquestra que possuísse clarinetas para poder executar as suas sinfonias. Mais tarde, porém, ele mudou de idéia e resolveu refazer a orquestração das sinfonias nº. 39 e 40 para incluir duas clarinetas (para isto, ele só precisou realmente alterar as partes de oboé). A versão que nós ouvimos dessas duas sinfonias hoje em dia é quase sempre a versão com as clarinetas.

Por fim temos a Sinfonia No. 41 em Dó Maior, K551 ("Sinfonia Júpiter"). Quem lhe deu este título foi o editor musical inglês que publicou a partitura após a morte de Mozart, pela "alta elevação de idéias e nobreza de tratamento." É o deus grego passeando por entre as nuvens, exibindo sua beleza e majestade. Está orquestrada para flauta, dois oboés, 2 fagotes, 2 trompas, 2 trompetes, tímpanos (do, sol) e cordas. É interessante notar que, sempre que aparecem tímpanos em Mozart, aparecem também trompetes. Só existe um exemplo de tímpanos sem trompetes na música de Mozart: na Serenata Notturna, K239. Os tímpanos, quando aparecem, são sempre dois: um na tônica, outro na dominante.

[editar] Concertos para piano

Mozart era um exímio pianista, podendo ser considerado o primeiro virtuose da história deste instrumento. Ele adorava se apresentar em público exibindo seus dotes de pianista e, nos seus últimos anos em Viena, esta era uma de suas principais fontes de renda. Ao contrário, por exemplo, dos seus concertos para instrumentos de sopro, escritos para um amigo clarinetista (Anton Stadler), ou para um amigo trompista (Joseph Leutgeb), ou um ou outro instrumentista que se aproximava de Mozart pedindo a ele que compusesse música para seu instrumento, os concertos para piano e orquestra de Mozart foram escritos - com algumas excepções - para serem tocados em público pelo próprio Mozart. Não é de surpreender, portanto, que haja tantas obras primas entre os concertos para piano de Mozart. Alguns pensam que a melhor música de Mozart está nos concertos para piano. Outros pensam que está nas óperas. Esta disputa não termina nunca, mas uma coisa é certa: nenhum outro compositor compôs tantos concertos para piano quanto Mozart, e ninguém o superou neste gênero.

Embora tenha composto obras primas em todos os gêneros musicais existentes, Mozart parecia manifestar o melhor do seu gênio naquelas situações em que um solista tem que se defrontar com uma orquestra, como nas árias de ópera e nos concertos. Seria isto uma metáfora da contraposição indivíduo/sociedade, ou do gênio que se destaca dos seus contemporâneos? Pode ser, mas nos concertos para piano nós temos a vantagem adicional de que ele próprio era virtuoso do instrumento para o qual estava escrevendo, e isto explica por que encontramos mais obras primas de Mozart entre os concertos para piano que entre as sinfonias, por exemplo, ou os quartetos de cordas.

Köchel numerou os concertos para piano de Mozart de 1 a 27. Só que Köchel não sabia que os que ele numerou de 1 a 4 não são obras originais de Mozart, são só arranjos que Mozart fez para piano e orquestra de sonatas para cravo de outros compositores. Esses arranjos são pièces d'occasion, meros pastiches que Mozart fez aos 11 anos de idade, que ele provavelmente nem sequer pensava em guardar para a posteridade. Além disso, Köchel incluiu entre os "concertos para piano" um que é na realidade para três pianos (no. 7, K242) e outro para dois pianos (no. 10, K365). Subtraindo então estes 6 dos 27 que Köchel numerou, ficamos com 21 concertos para piano e orquestra de Mozart.

O primeiro concerto para piano de Mozart que é universalmente aclamado como uma obra prima por todos aqueles que conhecem e amam a música de Mozart é o Concerto No. 9 em Mi Bemol Maior, K271, também chamado Concerto Jenamy devido à pessoa a quem ele foi dedicado, a pianista Madame Victoire Jenamy (1749-1812). Em todo caso, ela parece mesmo ter sido uma exímia pianista, se é verdade que Mozart pretendia que este concerto fosse tocado por ela.

Outra peça interessante deste período inicial em Salzburgo é o Concerto No. 12 em Lá Maior, K414, uma peça leve, graciosa e despreocupada, capaz de dar grande prazer ao ouvinte. Do número 16 em diante, os concertos para piano de Mozart são todos obras primas.

De todos os concertos para piano de Mozart, apenas dois são em tonalidade menor: o No. 20 em Ré Menor, K466 e o No. 24 em Dó Menor, K491. As tonalidades menores são, como nós sabemos, mais sombrias e mais tristes que as tonalidades maiores, mais claras, mais luminosas, mais alegres. O estado mental transmitido por esses dois concertos se assemelha a uma psicose no No. 20, e a uma neurose no No. 24. Sentimos fantasmas na introdução orquestral do Concerto em Ré Menor (podemos chamá-lo assim sem perigo de confusão, porque Mozart só compôs um nessa tonalidade), lembrando a cena no último ato de Don Giovanni, em que o fantasma do comendador entra na casa de Don Giovanni. Esta cena, bem como a ária da Rainha da Noite no segundo ato de A Flauta Mágica estão entre as poucas ocasiões em que Mozart utilizou essa tonalidade tétrica, fantasmagórica, ameaçadora de ré menor. Já o Concerto em Dó Menor é muito triste, dando a impressão de que Mozart estava deprimido quando o compôs. Dó menor é a tonalidade trágica por excelência (a mesma tonalidade da Quinta Sinfonia de Beethoven). Um outro ponto a ser marcado neste concerto é a sutileza e o refinamento da escritura para instrumentos de sopro, mormente no segundo movimento, onde há uma seção praticamente só para eles, que se põem a dialogar com o piano.
Image:Ltspkr.png - Concerto No. 20 em Ré Menor, K466, 1o. movimento Allegro ?

O Concerto No. 21 em Dó Maior, K467 é outro favorito, tanto dos pianistas quanto do público. É muito sinfônico na sua concepção, com uma introdução orquestral marcial e de ânimo eufórico. Seu segundo movimento foi usado como tema de um filme famoso (Elvira Madigan, 1967).

O Concerto No. 22 em Mi Bemol Maior, K482, tem um primeiro movimento eufórico e festivo, cheio de fanfarras de tímpanos e trompetes. O segundo movimento, escrito na relativa (dó menor) é triste e sombrio, mas no último a luz e a alegria surgem de novo, com passagens celestiais nos instrumentos de sopro.

O Concerto No. 23 em Lá Maior, K488 tem um caráter angélico e sobrenatural, elevando a mente do ouvinte acima das coisas deste mundo. Mozart excluiu de sua orquestração todos os intrumentos de sonoridade rude ou agressiva; não há tímpanos nem trompetes; apenas uma flauta, duas clarinetas, dois fagotes e duas trompas, além das cordas. Não há contrastes dinâmicos violentos nem explosões orquestrais. O segundo movimento é em fá sustenido menor (a relativa de lá maior), acentuando ainda mais o caráter contemplativo desta música sublime. Maurizio Pollini talvez tenha sido o pianista que melhor captou o espírito de êxtase místico desta música.

A Encyclopaedia Britannica chama o Concerto No. 26 em Ré Maior, K537 (chamado Concerto da Coroação) de "brilhante mas superficial". Isto pode ser verdade, mas esta é uma obra adequada para a finalidade para a qual foi criada: as festividades da coroação de Leopoldo II, imperador da Áustria, em 1790, ocasião na qual não cabem grandes dramas nem muita profundidade. Ao mesmo tempo majestoso e festivo, esta é uma obra capaz de dar grande prazer ao ouvinte.

Géza Anda gravou todos os concertos para piano de Mozart para a Deutsche Grammophon. Altamente recomendável.

[editar] Concertos para instrumentos de sopro

Os 4 concertos para trompa de Mozart, K412, K417, K447 e K495, bem como o Rondò K371, foram todos escritos para a mesma pessoa, o trompista Ignaz Leutgeb, um dos amigos mais íntimos de Mozart. A primeira dessas peças é em ré maior, as outras todas em mi bemol maior.
Image:Ltspkr.png - Concerto em Lá Maior para Clarineta, K622, 3o. movimento Rondo (Allegro) ?

O Concerto em Lá Maior para Clarineta, K622, é a última obra instrumental do mestre de Salzburgo, escrita em outubro de 1791 - dois meses, portanto, antes da morte de Mozart - para seu amigo, o clarinetista Anton Stadler. Os obbligati para clarineta na ópera La Clemenza di Tito também foram escritos para ele.

Os dois concertos para flauta, em sol maior, K313, e em ré maior, K314 foram escritos por encomenda. No último movimento do K314 Mozart utiliza a mesma melodia da ária Welche Wonne, welche Lust da ópera O Rapto do Serralho. Há também o Andante em Dó Maior para Flauta e Orquestra, K315, e o sublime Concerto para Harpa, Flauta e Orquestra, K299 (a única obra que Mozart escreveu para harpa).

O Concerto para fagote em mi bemol maior, K. 191, foi datado por Mozart a Salzburg, 4 de junho de 1774. Ignora-se se Mozart tinha algum solista em mente, ou se o compôs pelo simples prazer de compor.

[editar] Concertos para violino

* Mozart compôs 5 concertos para violino: K. 207, 211, 216, 218, 219 ("Turco")

Todos eles foram compostos em 1775, quando Mozart era spalla da orquestra da corte do arcebispo Colloredo, em Salzburgo, e foram tocados por ele em Viena, Munique e Augsburgo. Depois que Mozart se mudou para Viena, em 1781, parece que ele perdeu o interesse em ser virtuose do violino, e nunca mais apareceu em público tocando este instrumento.

Dos concertos para violino de Mozart, o que mais tem sido gravado e executado em público é o último, que é o mais virtuosístico dos cinco, com seu finale à moda turca.

[editar] Sonatas para piano

Mozart compôs um total de 18 sonatas para piano, divididas em quatro grupos:

* 6 sonatas K. 279, 280, 281, 282, 283, 284
* 3 sonatas K. 309, 310, 311
* 4 sonatas K. 330, 331, 332, 333
* 5 sonatas K. 457, 533, 545, 570, 576

As primeiras 6 sonatas foram todas compostas em Munique em 1775, num período de menos de dois meses (14 de janeiro - 6 de março), quando Mozart se encontrava naquela cidade organizando a estréia de sua ópera La Finta Giardiniera. Mozart aprendeu a tocar cravo na infância, mas muito cedo ele entrou em contato com o pianoforte, um instrumento que havia sido inventado pouco antes dele nascer, e que estava então em seus primeiros estágios de evolução. A técnica de execução pianística é completamente diferente da do cravo. Como seu próprio nome o diz, o pianoforte é capaz de produzir sons de alta intensidade (it. forte) ou baixa (it. piano), ou seja, tem uma amplitude dinâmica maior do que o cravo; além disso, as cordas do pianoforte (cujo nome foi abreviado para piano, nas línguas outras que o italiano) vibram por mais tempo que as do cravo, permitindo efeitos de eco e a criação de um fraseado especial. A música composta por Mozart para o instrumento, à medida que ele absorvia essas inovações técnicas e as dominava, reflete essa evolução. Assim, as primeiras cinco sonatas contêm poucos elementos de técnica pianística. Podem muito bem ser tocadas ao cravo. Já a sexta, Sonata em Ré Maior, K284, chamada Sonata Dürnitz por ter sido dedicada a um certo Barão Dürnitz que Mozart conheceu em Munique, está escrita num estilo inconfundivelmente pianístico, e não funcionaria bem em nenhum outro instrumento. O terceiro movimento é um tema com doze variações que contém passagens que ganham um realce extraordiná rio com o uso do pedal, pela primeira vez numa sonata de Mozart.

A Sonata em Dó Maior, K309, é ainda mais marcantemente pianística do que a anterior. Ela abre com poderosos acordes que produzem um efeito de eco, parecendo anunciar o despertar de uma nova era. Ela foi composta em Mannheim em outubro e novembro de 1777, onde parece que Mozart entrou em contato com um novo instrumento de fabricação Stein, cujas possibilidades sonoras o fascinaram. Esta sonata foi dedicada a uma aluna de Mozart, Rosa Cannabich. Esta e a anterior estão entre as primeiras peças da história da música escritas especificamente para piano.

De todas as 18 sonatas para piano de Mozart, apenas duas estão escritas em tonalidade menor: a Sonata em Lá Menor, K310, e a Fantasia e Sonata em Dó Menor, K457. A Fantasia em Dó Menor, K475 na verdade foi composta como uma peça separada, mas mais tarde Mozart chegou à conclusão de que ela formava a introdução ideal à sonata na mesma tonalidade. Essas duas sonatas apresentam todo o drama que se espera de uma obra de Mozart escrita em tonalidade menor, e estão entre as maiores obras do compositor.

A mais famosa de todas as sonatas para piano de Mozart é, sem dúvida nenhuma, a Sonata em Lá Maior, K331. Ignora-se a data ou o local de composição dessa peça. O primeiro movimento não está na forma de sonata, mas é um tema com variações. O tema, que Mozart marcou Andante Grazioso, assemelha-se a uma cantiga de ninar. Alfredo Casella, um dos musicólogos mais respeitados do século XX, comentou: "Mozart terá talvez composto outras variações mais fortes, mais brilhantes, mas ele jamais superou a graça consumada dessas seis." As seis variações são todas em lá maior, com exceção da terceira, que é em lá menor. O segundo movimento, um minueto, abre com o mesmo tema que dá início à sonata K309, mas que Mozart desenvolve de maneira totalmente diferente. Aqui, o gênio de Mozart se manifesta da maneira mais patente: como pode uma mesma idéia musical dar origem a duas coisas tão diferentes? Mas a maior razão da fama desta sonata está no célebre final alla turca, uma peça que nunca deixa de deleitar os ouvintes ou excitar os virtuoses.

As sonatas para piano de Mozart não têm todas o mesmo nível de inspiração. Há várias obras primas entre elas, mas também há peças menores. Mais tarde, Beethoven exploraria os recursos do piano com muito mais profundidade e ousadia, mas é preciso levar em consideração que Beethoven trabalhava com um instrumento muito mais poderoso.

[editar] Música de câmara

[editar] Trios

* 6 trios para piano, violino e violoncelo, K254, K496, K502, K542, K548, K564

O trio K254 é cheio daquela graça mozartiana tão deliciosa, mas o violoncelo se limita ao papel de reforço nos baixos, quase sempre dobrando a mão esquerda do pianista, o que torna esta obra um pouco superficial. Já no K548 e no K564 o violoncelo finalmente tem a chance de cantar, ainda que por uns breves instantes, o que torna essas obras mais interessantes que as anteriores.

* Trio para clarineta, viola e piano em mi bemol maior, K498

Obra interessantíssima, para uma combinação de instrumentos inusitada. Dedicada ao clarinetista Anton Stadler.

[editar] Quartetos

Mozart costumava se reunir com Haydn e outros amigos mais chegados em Viena para tocar quartetos de cordas. Nessas reuniões, Haydn era primeiro violino, o compositor Karl Ditters von Dittersdorf segundo violino, Mozart pegava na viola, e o famoso solista Johann Baptist Vanhal tocava violoncelo. Em algumas dessas reuniões informais, o poeta Giovanni Battista Casti e o compositor Giovanni Paisiello estavam presentes. Segundo Mozart, foi Haydn que me ensinou a compor quartetos de cordas.

* 6 Quartetos de cordas dedicados a Haydn, K387, K421, K428, K458 "A Caça", K464, K465 "As Dissonâncias"

O Quarteto K458, A Caça, recebe este nome devido ao tema que abre o primeiro movimento, que lembra o chamado de uma trompa de caça. O Quarteto em Ré Menor, K421 (o único em tonalidade menor da coleção) é uma das peças mais tristes que saíram da pena de Mozart. Mas o Quarteto K465, As Dissonâncias, merece menção especial.

Ninguém é mais apegado ao sistema tonal do que Mozart. Por isso, o abandono da tonalidade nos 22 compassos da introdução lenta (Adagio) do primeiro movimento deste quarteto causou estranheza. A Editora Artaria de Viena, que publicou os quartetos em 1785, chegou a devolver a partitura a Mozart, alegando haver "notas erradas" na introdução do quarteto. Este adagio, ao qual o quarteto deve seu cognome As Dissonâncias, tem levado às interpretações mais fantásticas. Leia-se, por exemplo, Maynard Solomon:

Aqui, Mozart simulou o próprio processo da criação, o caos antes de ser convertido em forma... Sem saber onde estamos, sabemos que estamos num universo alienígena. Laocoonte se contorce, enlaçado pelas serpentes... Mozart simulou uma transição das trevas à luz,do submundo para a superfície...

Convém notar que pouquíssimas obras de Mozart foram publicadas durante a vida do compositor; daí a maior parte delas tem um número Köchel, mas não número de opus. Estes quartetos, entretanto, foram publicados pela Artaria como opus 10.

Após ouvir esses quartetos, Haydn exclamou a Leopold Mozart: Perante Deus eu lhe declaro, como um homem honesto, que seu filho é o maior compositor que eu conheço, quer pessoalmente, quer de nome.

* Quarteto de cordas em Ré Maior, K499 "Hoffmeister"
* 3 Quartetos de cordas dedicados ao Rei da Prússia, K575, K589, K590
* Adagio e Fuga em Dó Menor para quarteto de cordas, K546
* 2 Quartetos para piano, violino, viola e violoncelo, K478 e K493
* 4 quartetos para flauta, violino, viola e violoncelo, K285, K285a, K285b, K298

[editar] Quintetos

* 5 Quintetos para 2 violinos, 2 violas e violoncelo, K. 174, 515, 516, 593, 614

Mozart não tinha a mesma facilidade para compor quartetos de cordas que tinham Haydn e Beethoven. Ele mesmo confessou, na carta-dedicatória a Haydn que acompanhou os quartetos dedicados ao mestre, que aqueles quartetos tinham sido "o fruto de uma longa e penosa labuta" (una lunga e laboriosa fatica). De fato, Mozart iniciou a composição dos quartetos em 1783, e eles só ficaram prontos em meados de 1785, um período de tempo inusitadamente longo para Mozart. Isto é confirmado pelos próprios manuscritos originais dos quartetos, que estão cheios de rasuras e correções. Parece que as limitações inerentes ao meio de certa forma lhe tolhiam a inspiração. Mozart resolveu este problema dobrando a viola (Schubert resolveria o mesmo problema dobrando o violoncelo). Mozart achou muito mais fácil compor quintetos do que compor quartetos. Estes quintetos saíram todos num jorro de "inspiração espontânea" , foram compostos em pouco tempo, e estão todos entre as melhores peças de música de câmara jamais compostas.

* Quinteto em Lá Maior, para clarineta e quarteto de cordas, K. 581

Provavelmente o mais famoso de todos os quintetos de Mozart. Dedicado ao clarinetista Anton Stadler.

* Quinteto em Mi Bemol Maior, para oboé, clarineta, trompa, fagote e piano, K452

Obra de experimentação sonora, para uma combinação de instrumentos fora do comum. Mozart não só faz soar cada instrumento clara e distintamente, mas também combina os instrumentos de diversas maneiras possíveis, criando efeitos sonoros estupendos. Uma delícia para os ouvidos. Parece que só existe uma outra obra, em toda a história da música, para esta mesma combinação instrumental: o Quinteto opus 16 de Beethoven, na mesma tonalidade que o de Mozart.

[editar] Danças

Contradança K. 534, Contradança K. 535, 6 Danças Alemãs K. 536, 6 Danças Alemãs K. 567, Contradança Der Sieg vom Helden Coburg K. 587, 6 Minuetos K. 599, 6 Danças Alemãs K. 600, 4 Minuetos K. 601, 4 Danças Alemãs K. 602, 2 Contradanças K. 603, 2 Minuetos K. 604, 3 Danças Alemãs K. 605, 6 Danças Alemãs K. 606, Contradança em mi bemol K. 607, 5 Contradanças K. 609, Contradança em sol Les Filles Malicieuses K. 610

[editar] Música Sacra

[editar] Missas

Mozart compôs muitas missas. Entre as que mais se destacam, podemos citar:

* Missa Brevis em Ré Maior, K194
* Missa em Dó Maior, K220, "dos Pardais"
* Missa Brevis em Si Bemol Maior, K275
* Missa em Dó Maior, K317, "da Coroação"
* Missa em Dó Menor, K427 (inacabada)

A Missa dos Pardais recebe este nome devido a uma deliciosa figura nos violinos, que sugere o gorjeio de pardais, e que reaparece constantemente no decorrer da missa. A Missa da Coroação não foi composta, como se pensava, para a coroação do imperador José II em 1780, mas sim para a cerimônia religiosa da coroação de uma imagem da Virgem numa igreja de Salzburgo. É uma missa de curta duração, rápida pulsação e radiante alegria, extremamente comovente.

Basta ouvirmos uma só dessas peças para nos convencermos de que o sentimento religioso de Mozart era sincero e profundo. Mozart era católico convicto, e envolvido com a maçonaria compondo músicas para as lojas maçônicas desde os 11 anos de idade, para seu pai que era maçon, porém iniciou-se em 1784. Por fim temos a

* Missa de Requiem em Ré Menor, K626

Já doente em seu leito de morte, Mozart trabalhava no Requiem. A etérea melodia do Lacrimosa foi a última coisa que saiu daquela pena divina. Ao terminar de escrever esta melodia, lágrimas lhe vieram aos olhos, e suas mãos deixaram cair a partitura. Pouco mais tarde, à uma hora da manhã do dia 5 de dezembro de 1791, o mestre estava morto. Alguém escreveu: Um profundo sentimento religioso se evola daquelas notas, que parecem saídas de uma alma em direta comunicação com a Divindade. Houve muita disputa depois da morte de Mozart para saber quem terminaria o Requiem, mas no final a tarefa acabou recaindo sobre seu aluno Franz Xaver Süssmayer. Ele completou a orquestração que Mozart havia deixado incompleta, e escreveu o resto da música, baseando-se em parte em anotações deixadas pelo próprio Mozart.











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